O vento bate contra as paredes do castelo. Eu ouço o gemido lamentoso e musical do Ultimo Romântico na torre norte. O vento sopra sua música sofrida até meus ouvidos que, insensíveis, apenas a contemplam como arte que é.
Descrevo um arco com a lâmina da espada. Ela é muito leve, e amolada o suficiente para decepar uma cabeça. Sua lâmina reflete meus olhos negros e secos, fixos em algum ponto que nem eu mesmo sei descrever. Lá fora neva mas mesmo assim eu saio para um passeio. A brisa cortante continua a me trazer versos e poesias melancólicas. Eu sorrio. Ele diria ser um riso doente, mas eu enquadro aquela expressão facial como meu sorriso mesmo, gesto cotidiano e simples.
No bosque nos fundos do castelo eu começo a pegar lenha, alguma lenha seca que eu possa acender. É muito difícil, visto que a neve umedece-as. Volto para dentro quase sem nada nas mãos, mas o suficiente para por fogo na lareira e aquecer-me. O vinho está delicioso e tenho uma garrafa cheia do meu lado. Alguém bate à porta e eu me recuso a estragar tal momento sublime com a companhia de qualquer pessoa. As batidas na porta e o som das melodias lá encima não me incomodam mais. É tudo tão feliz, tão onírico! Eu me vejo refletido em uma armadura ao lado da lareira. Eu não pareço doente, na verdade eu nunca estive tão bem.
Batidas na porta. Passa pela minha cabeça atender. Não. Eu acabo de me lembrar que me prometi vinte e três minutos atrás que não voltaria atrás nunca mais numa decisão tomada. E a decisão já estava tomada. Subi as escadas com a espada embainhada, e cada degrau aumentava a melodia e meu medo.
Abri a porta: um espelho. Era eu ali dentro que me olhava, a diferença, a unica diferença, é que em vez de uma espada ele tinha em mãos um papel, manchado de sangue e de lágrimas. Fiquei imóvel por algum tempo, olhando para o batente da porta e com medo de esbarrar em o que quer que fosse que estivesse refletindo-me. Atravessei a porta, não esbarrei em nada. Ele apenas olhava para mim com seus olhos lacrimejantes e cheios de não-sei-exatamente-o-que. Joguei a espada para a direita e depois tracei um arco com ela, e a cabeça dele estava no meio da trajetória.
Seu corpo caiu para frente me sujando de sangue, mas o papel não caiu de sua mão. Tirei-o de lá, e li o poema de amor mais apaixonado que já vira.
quinta-feira, 1 de outubro de 2009
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