segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Dias esquecidos

O que eu tenho duvidado, o que eu tenho pensado nesses ultimos dias é sobre o real sentimento. Sobre a realidade, estranha realidade que me surpreende cada dia mais. Eu penso em dias passados que me remetia alguns sentimentos estranhos, não sei se bons ou ruins, apenas... sentimentos. Tenho os esquecido com relativa facilidade, mas essa noite eu sonhei com algo, e de uma maneira incrível, eu senti novamente coisas que fazia muito eu não sentia, não sei se pelo sentimento ou pela falta de costume, eu me senti mal, incomodado.
Sentimento que me remeteu à pensamentos, como o quanto a gente muda em tão pouco tempo, como a gente deixa de ser quem era com tanta facilidade, uns ainda mais que outros. Como quem muda de ideia muito rapido, e no meio desse texto minha vontade já é de escrever sobre outra coisa, as ideias vão indo, vão preenchendo a tela e deixando minha cabeça vazia, já se enchendo novamente com outras ideias que nada tem a ver com as anteriores. Como serei daqui algum tempo? Me responda daí, Lucas do futuro, com que eu me pareço? Em um ano eu escrevo outro texto, pra completar esse aqui, e lembrarei de dias confusos que talvez ainda eu nao tenha-os deixado, mas lembrarei desses, dessas dúvidas de hoje, lembrarei desse reggae e dessa dor de cabeça filha-duma-pu** que não me deixa nem a pau, lembrarei desse monte de trabalhos que eu tenho pra fazer, coisas pra estudar, e uma preguiça proporcional.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

My G-g-g-g-ge-neration

Minha geração é essa coisa tosca, disforme e com informação demais para se unir em torno de alguma coisa. Nenhum de nós se esforça para ser lembrado de nenhuma forma, apenas continuamos seguindo o fluxo e nos adaptando a tudo que está ao nosso redor. Nada de revoltas, de gritos noturnos e de música barulhenta depois da meia-noite. Não posso tocar meu violão na rua mais tarde, incomoda os vizinhos. Eu toco.
Nada que os faça ser pelo que são, e sim pelo que podem ser. Pelo que ouvem dá pra entender o que buscam.
Toda a geração, não faz nada pelo medo de errar, e não erra mesmo. O problema é esse, estamos tensos, com medo, e quando saímos da linha é com excesso de adrenalina, quase uma overdose natural. Essa minha geração que não olha pro próximo nem pra procurar briga e estou ficando entediado...
Cadê os loucos? Ficaram apenas os depressivos. Cadê os compositores? Ficaram apenas os músicos. E para onde foram os revoltados? Me deixaram aqui com todos esses conformados... Somos apenas o plancton... Somos apenas o plancton... Somos apenas o plancton...
Somos apenas mercenários, todos vendidos para a atitude moderna.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Não tem como amar
e ainda ser feliz,
não tem como voar
e se importar com o que se diz.
Não tem como dormir
já querendo acordar
e não dá pra ir embora
se acabo de chegar.
Não tem como ser livre
se eu me amarro em você,
não tem como ser livre
se eu não puder escrever.
O baque surdo me acorda,
a corda suja balança
e a criança discorda
da minha falta de esperança.

E o que eu vejo são olhares
que há muito estão distantes
e que ainda são milhares
a me olhar a todo instante
de inveja e de cobiça
que atiça o prazer
pra fazer com que eu insista
e não pense ao dizer.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Portas invisíveis

O vento bate contra as paredes do castelo. Eu ouço o gemido lamentoso e musical do Ultimo Romântico na torre norte. O vento sopra sua música sofrida até meus ouvidos que, insensíveis, apenas a contemplam como arte que é.

Descrevo um arco com a lâmina da espada. Ela é muito leve, e amolada o suficiente para decepar uma cabeça. Sua lâmina reflete meus olhos negros e secos, fixos em algum ponto que nem eu mesmo sei descrever. Lá fora neva mas mesmo assim eu saio para um passeio. A brisa cortante continua a me trazer versos e poesias melancólicas. Eu sorrio. Ele diria ser um riso doente, mas eu enquadro aquela expressão facial como meu sorriso mesmo, gesto cotidiano e simples.

No bosque nos fundos do castelo eu começo a pegar lenha, alguma lenha seca que eu possa acender. É muito difícil, visto que a neve umedece-as. Volto para dentro quase sem nada nas mãos, mas o suficiente para por fogo na lareira e aquecer-me. O vinho está delicioso e tenho uma garrafa cheia do meu lado. Alguém bate à porta e eu me recuso a estragar tal momento sublime com a companhia de qualquer pessoa. As batidas na porta e o som das melodias lá encima não me incomodam mais. É tudo tão feliz, tão onírico! Eu me vejo refletido em uma armadura ao lado da lareira. Eu não pareço doente, na verdade eu nunca estive tão bem.

Batidas na porta. Passa pela minha cabeça atender. Não. Eu acabo de me lembrar que me prometi vinte e três minutos atrás que não voltaria atrás nunca mais numa decisão tomada. E a decisão já estava tomada. Subi as escadas com a espada embainhada, e cada degrau aumentava a melodia e meu medo.

Abri a porta: um espelho. Era eu ali dentro que me olhava, a diferença, a unica diferença, é que em vez de uma espada ele tinha em mãos um papel, manchado de sangue e de lágrimas. Fiquei imóvel por algum tempo, olhando para o batente da porta e com medo de esbarrar em o que quer que fosse que estivesse refletindo-me. Atravessei a porta, não esbarrei em nada. Ele apenas olhava para mim com seus olhos lacrimejantes e cheios de não-sei-exatamente-o-que. Joguei a espada para a direita e depois tracei um arco com ela, e a cabeça dele estava no meio da trajetória.

Seu corpo caiu para frente me sujando de sangue, mas o papel não caiu de sua mão. Tirei-o de lá, e li o poema de amor mais apaixonado que já vira.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Ainda hoje olhei para o céu e - até que enfim - consegui encontrar a constelação de escorpião, ela que teimava em se esconder de mim. Por muitas vezes eu consegui encontrar Antares, a estrela mais brilhante deste aracnídeo, entretanto as luzes da cidade ofuscam os outros astros.

As luzes da cidade ofuscam muitas coisas, a poesia por exemplo. A luminosidade e o entretenimento urbano nos extirpam a sensibilidade, a percepção, e ainda por cima atrofiam nossos outros sentidos, já que ficamos fissurados em ver, nos esquecemos de fechar os olhos e sentir os aromas, por exemplo.
Eu fico meio atordoado, de tanto pensar, de tanto ter que produzir críticas e juízos de valor todos os dias - e sobre tudo. Isso que nos é exigido, pen(s)ar. A era da racionalidade. Pra falar a verdade os seres humanos nunca foram de sentir mesmo, as luzes da cidade existem desde sempre.

Mais uma lenda sobre o Rock'n'Roll

Um garoto e sua guitarra.
Podia um garoto ser recriminado por tentar ser o melhor? Podia um garoto!
Um garoto que vendeu sua alma por amor à sua música.

Ele estava deitado, com o violão escorado na barriga, puxando pequenas rimas e alguns riffs. Nada de mais, apenas fluia. Suas canções não falavam só de amor, nem de odio, muito pelo contrario, elas falavam de idéias, flutuantes. As idéias flutuam, e estão sempre flutuando, aquele que pensa que pode prender uma idéia no papel está 'redondamente enganado' (que expressão horrível), e por estarem flutuantes, as idéias só podem ser demonstradas no papel se forem pegas como realmente estão: Bagunçadas. Alguns escrevem histórias, de amores, criticas, mas suas músicas não são mais de idéias, são de coisas que foram copiadas, como as criticas, ou de coisas que foram vividas por alguem, como historias.
Esse garoto que cantava idéias era diferente, um verdadeiro decendente da espécie dos Hetero sapiens, era o único que escrevia seu caminho, vivia como bem entendesse.
Ele já tinha lido alguns filósofos, mas achava que era idiota tentar pensar com a cabeça dos outros, tentar pegar atalhos para o conhecimento, lia apenas livros para entretenimento, não assistia televisão, sequer estudava. Sua vida era a música.
Mas não era um dos melhores no que fazia, talvez porque lhe faltassem dedos na mão esquerda, motivo pelo qual teve que aprender a ser ambidestro, e os dedos que lhe restavam na mao esquerda eram para segurar a palheta.
Alguns riam de sua inútil empreitada pelo mundo do rock, ele não se abalava, mas queria a qualquer custo ser o melhor guitarrista do mundo.
Eis que surge sua resposta. Uma proposta: Sua alma em troco da habilidade.
A resposta estava na ponta da lingua há muito tempo: Sim!
Esperou quatro horas e quarenta e tres minutos embaixo de um outdoor do Mc'Donalds, como odiava muito tudo aquilo. Era na saída da cidade.
Um homem vinha pela estrada, montando uma Harley-Davidson, vestia uma jaqueta preta sobre o tronco nu, e uma calça jeans muito debotada, suas botas pretas pareciam ter milhares de anos de uso, e seus óculos espelhados faziam aquele estilo ainda mais clichê, se não fosse o fato dele se vestir como se fosse o inventor dessa moda. Quando chegou ao lado do 'aspirante à lenda', tirou o cigarro da boca e deu uma cusparada. 'Trouxe sua guitarra?' a resposta foi seguida do gesto, 'sim'. O homem pegou a guitarra, olhou de um lado, do outro, e devolveu a guitarra, com uma palheta, 'Cortesia da casa'.
O garoto retornou pra casa, e tocou a noite inteira. Seus vizinhos alternavam entre o odio pelo som que os atrapalhava dormir e o amor pelo compasso perfeito daquelas notas.
Até sua voz estava melhor. Chamou Rick, velho amigo, baterista, e também Sue, a melhor baixista que já tinha conhecido, quando começou a tocar com eles, simplesmente não acreditaram no que ouviam,e viram que o grupo fora feito para as paradas de sucesso.
Em duas semanas já abririam o show mais importante da cidade, um show que iria ficar pra historia, pois quando Tom começou a tocar todos só queriam ouvi-lo, The Devil's Finger estourou no primeiro show importante de suas vidas, a banda principal esperava para tocar, mas o público nao queria deixá-los ir, e quando finalmente saíram, todos foram embora com eles. O noticiário não falava de outra coisa, era a melhor banda de todos os tempos, Tom tinha conseguido.

O tempo passou, o sucesso já lhe era comum, mas não deixava de amar o rock. Suas músicas tinham a intensidade necessária, o Tom exato. Já eram 10 anos tocando juntos, e o sucesso só crescia. Suas músicas faziam aquele frio subir a espinha de quem quer que ouvisse, sua performance criara um novo estilo de viver. Vivia seu sonho, até o dia que aqueles olhos vermelhos chegaram. Os velhos olhos vermelhos.
Viera cobrar sua divida, viera colher sua alma.

'Você não fará isso'
'Por quê não faria?' Disse o homem das botas velhas-
'Por que eu não quero'
'Não esta se achando muito presunçoso?' - Ria-se o homem - 'Não acha ser uma situação reversivel, acha?'
'Na verdade acho... Eu não fiz nada que fugisse à minha natureza, não havia outro caminho, não posso ser condenado por ter seguido meu caminho.'
'Temos um preço a pagar pelo que fazemos'
'Eu desafio deus a aparecer, se é que ele ou você realmente existem' - Dizia tranquilamente Tom enquanto encarava o homem de olhos vermelhos sem nenhum medo - 'Ou estou sonhando, ou posso escolher o que quiser'
'como assim?' Disse o homem da jaqueta enquanto um novo personagem aparecia, estavam na mansão de Tom, e nesse momento, ele passava pela escada, O homem que vendeu o mundo.
'Ninguem me desafia, jovem' Disse o intruso.
'Eu desafiei, não desafiei?'
'Mais uma discussão estúpida' O olhos vermelhos sentou-se então em uma poltrona de couro atrás de si.
'Por que me desafiou? Pedindo ajuda nos momentos finais?' Disse o 'todo-poderoso'
'Não, na verdade queria apenas saber se você existe mesmo, mesmo que isso possa nao passar de um sonho.' - Olhava Tom despreocupado para deus e o diabo - 'Mas por via das dúvidas considero que estou na vida real... Por que você deixa esse cara aí fazer o que quer? não tem poderes suficientes para detê-lo? Não quer dete-lo? Quem se omite perante o crime tembem tem culpa...'
'Como ousa?...'Deus levantava o dedo em riste com um olhar fulminante.
'Pensei que deus não tivesse alterações comportamentais! humano, demasiado humano...' - Continuava tranquilo.
'Quando encarno tenho qualidades humanas, horas!' - Olhava deus, perdido, para aquele humano insolente.
'Mas não é o todo poderoso?'
'Na verdade, não' - Respondia o demonio tirando seus óculos espelhados - 'VOCÊ é o todo poderoso'
'Podia não ter contado pra ele, idiota' - respondia deus nervoso.
'Isso eu já suspeitava, porque então vem cobrar uma dívida comigo, oh reles ser da minha imaginação?'
'Por que sua consciencia lhe cobraria algo?'
'Como posso ser cobrado se não tenho consciencia?'
'Não?!?!?!' - Responderam em uníssono os dois entes mágicos e sumiram.

Tom continuou então a arrumar suas coisas para a turnê na europa, desde que tinha descoberto ser esquizofrenico há cinco anos atrás sua vida tinha mudado bastante, no inicio ainda se assustava, mas tinha aprendido a lidar com as situações inusitadas. Ficou tentando se lembrar de quando garoto, esperando embaixo de um outdoor com uma guitarra na mao, o quanto deve ter parecido tolo...
Depois que acabou de arrumar suas coisas, deitou-se, com o violão escorado na barriga, e começou a fazer pequenas rimas sobre idéias...

Quando eu morri

Eu apenas andava na rua distraídamente quando aquele Gol prateado me pegou de cheio. No momento do impacto eu apenas senti a dor nas pernas e ouvi os ossos estalarem. Meus joelhos se dobraram de uma forma não muito usual. Fui esmagado entre o carro e um poste que por ali passava.

Olho para baixo e vejo o sangue, demoro alguns segundos para perceber que é meu, e perceber a realidade que me cerca. É um pouco difícil aceitar que vou morrer. Mas não tenho que aceitar nada.
Segundos que parecem eternidades. Indiferença. A dor não é tão forte quanto dizem. Acho que tive um dos pulmões perfurados, pois o sangue teima em sair pelo nariz, cada vez que respiro. A visão se embaça, e antes que tudo fique escuro eu vejo um homem cambaleante saindo do automóvel.

Abro os olhos. Ouço alguém gritar: 'Bêbado irresponsável!', é tudo muito onírico. Escuridão novamente. Quando abro os olhos novamente é para ver a ambulância que se aproxima de mim, com socorristas me pedindo para resistir... Mas ela é tão tentadora. Estou cansado. Escuridão.

A última coisa que me lembro é de algumas luzes e médicos. Agora o que vejo sou eu. Eu. Ex-eu.
Não há dor, assim como não há sentidos. Aquele corpo costurado e inerte lá embaixo não é mais eu. E logo que conduzo tal ideia, meu ex-corpo é coberto com lençóis. Podia ter sido diferente?

Estou agora em um velório. Na porta para ser bem exato. Eu me conduzo lentamente olhando para a mãe e irmã do defunto, e penso em dar um abraço naquelas duas desconhecidas. Mas o defunto era eu. O pai, chora calado, os tios avós, namorada...Eu queria abraçá-la! Não é possível mais. Eu só queria ter dito que amava todos vocês no último minuto, mesmo que soubessem disso, ou que eu já tivesse dito milhares de vezes. Não há arrependimento, há só um vazio.

Todas as pessoas que eu confiava estão ali. Eles choram. Eu não sei porque choram, eu amo todos eles e eu estou bem.

Vou até o caixão e vejo pela última vez seu rosto pálido, antes de sentir aquela turbulencia. Como uma tempestade de areia que me puxa de volta para o silencio da noite, para a solidão do meu quarto.

Nihil(ismo)

Qual é o sentido das coisas quando as coisas perdem o sentido?

As perguntas não têm respostas, isso nós já sabemos, as verdades há muito foram banidas desse universo. Nossos sentidos são tão falhos, nossas mentes tão fechadas...
Não, não estou de forma alguma deprimido. Ainda acho que a vida é bela... e sem sentido.

No final desse texto, vais ver que é apenas um vazio de palavras, assim como qualquer texto, e como ao final de qualquer leitura de revista, ou livro, vais terminar de ler e sentar-se para um bate papo virtual, ou para assistir TV, vais pensar em coisas mais mundanas, deixando esses assuntos que transcendem para os filósofos ou religiosos.

Tua vida tem sentido, oh cidadão comum! O sentido comum das coisas, o sentido da perpetuação da espécie, mesmo que seja um sentido alheio ao verdadeiro sentido: de não ter sentido!

Proponho-te então a pensar na verdadeira motivação da existência. Desde já te digo que são pensamentos perigosos, e vais te decepcionar muito no caminho.
Qual a razão de trabalhar tanto, de consumir tanto, de fazer coisas que não gostamos? Qual a finalidade de tudo isso? Não sabemos nem ao menos para onde vamos! Céu? Inferno? Bahh!
Alguns dizem que a vida tem valor quando tem uma finalidade, um sentido. Eu penso o contrário, os sentidos são para camuflar insatisfações, tentamos viver o amanhã para receber o último pagamento do mês e comprar aquele carro do ano. A partir do momento que viver sem um destino, como um mochileiro, um viajante , percebe a satisfação e a eternidade de cada momento, aceitando que a vida não tem sentido, mas que isso não tira a beleza da vida.

Não sei qual a motivação desse texto, mas espero que tenham gostado dele. Carpe Diem.

Constelações

Olho para o céu. Percebo a zênite -termo que eu desconhecia até anteontem e que descobri significar acima de nós no céu - a constelação de Órion, imponente. Pena que as nuvens cubram as estrelas, pena que as luzes da cidade ofusquem as estrelas, pena que as pessoas tenham se esquecido das estrelas.

Durante séculos, as estrelas guiavam os intrépidos viajantes pelos mares e terras nunca dantes desbravados. Ainda muitas histórias foram criadas para explicar a origem das estrelas, como os mitos de Perseu e Andromeda, que já embalaram os sonhos de muitas crianças. Ainda hoje as estrelas e o cosmos fascinam as crianças, que olham deslubradas para as constelações e tentam entender como tudo aquilo está lá, não é a toa que a profissão de astronauta é uma das campeãs entre os pequenos.

Mas nós esquecemos, esquecemos de nossos mitos e de nossas guias, alguns cidadãos passam simplesmente a vida sem ter olhado para o céu e contemplado uma estrela sequer, sequer perguntado como ela teria ido parar lá, as estrelas são o caminho do conhecimento, é uma das primeiras questões insolúveis descobertas por nós, mas esquecemos disso, muito fácil.

Às vezes me perco nas horas contemplando o céu, simplesmente por fazê-lo.
Descobrimos muitas coisas: que a lua mostra sempre a mesma face, que as cintilações são apenas mudanças atmosféricas, que a cor vermelha das estrelas significa que ela está se afastando... Mas ainda não aprendemos a sentar e contemplar as estrelas.

Renato Russo disse uma vez que o 'infinito é realmente um dos deuses mais lindos', mas nada seria o infinito sem o brilho das constelações.

Meus caminhos

Acordei hoje eram 4:22 da manhã. Apesar de uma leve irritação - minha incapacidade de dormir até às 10 me incomoda - eu me senti tranquilo. Nos trinta minutos seguintes fiz uma reflexão, por que tal tranquilidade?

Talvez a tranquilidade venha da segurança - pensei eu, peguei meu livro - O caçador de pipas, eu recomendo - e terminei de ler pela manhã mesmo. Como se eu estivesse em Cabul, vi o que realmente era a miséria e a dor. Às vezes nos lamentamos por muito pouco.

Como estava cedo demais para eu levantar, e obrigar todos da casa a compartilhar minha insônia, continuei as reflexões. Não sei nem ao certo porque escrevo, talvez eu queira compartilhar, talvez seja apenas porque não tenha nada melhor pra fazer [risos].

Minhas reflexões orbitaram em torno dos meus caminhos, das minhas escolhas tomadas na vida. Não foram poucas as vezes que me lamentei por atitudes tomadas sem pensar, ou arrependi por alguma coisa dita, mas percebi que essa lamentação é bem temporária, pois vi que quem eu sou está diretamente ligado a essas atitudes tomadas, sejam elas boas ou ruins. Sem meus erros incontáveis, ou foras ainda mais numerosos, que teria eu aprendido? Sem me arriscar tanto, qual experiência eu teria? Eu sou o resultado dos meus erros. Eu gosto do resultado. Eu gosto de errar.

Andava eu no carro com minha mãe certa vez, e ela me disse que eu não deveria seguir à risca tudo que ela falava. Implicitamente - ou talvez explicitamente mesmo - Ela me incitou a desobedecê-la. Qualquer mãe acharia a atitude da minha um tanto quanto irresponsável, eu por outro lado nunca vi maior sapiência. Ela me deu a liberdade para errar e aprender, me apoiou. Pensei nisso até as sete.

Depois, passou pela minha mente a idéia de destino, que exigiria outra longa dissertação, mas gostaria de adiantar alguma coisa. O destino existe, mas só daqui pra trás, ele está escrito até onde estamos na linha do tempo. O que aconteceu não poderia ser de outra forma, se pudesse, o teria sido. Foi esse o pensamento que me deu a segurança que eu precisava para começar o dia, e mesmo com aquela irritação, sei que comecei bem o dia.

Tudo que eu fiz até hoje, nada deveria ser mudado, eu não quereria mudar nada. Vou me esforçar para errar, cada vez mais incauto. Talvez não tenham que mentir ao colocar no meu epitáfio: Ele amou muito, ele errou e fez tudo que queria. Ele viveu!

À imagem e semelhança

Ele olhava para a tela do computador e sorria. Alexandre, ou Alex como preferia ser chamado, era programador e tinha terminado seu incrível projeto de inteligência artificial. Programara por seis meses, e ali estava o fruto de seu trabalho. Decidiu tirar férias de um mês para aproveitar seu projeto, curtir o que tinha feito e, claro, se divertir.

Primeiro ficou analisando o que tinha feito. Passou as primeiras horas inerte na frente do computador, sem saber o que pensar e admirado com o que fizera. Fizera seres inteligentes, que num micro-cosmo, reagiam de forma interessantíssima. Colocou seres em um ambiente selvagem, onde tinham que caçar, pescar e colher para sobreviverem, em poucos dias tais seres aprenderam a fazer fogo, se aqueciam e aqueciam seus alimentos. Decidiu chamá-los de Prometheus, fazendo uma alusão ao homem que roubou o fogo do monte olimpo. Apesar de estar maravilhado, Alex tinha marcado de sair com os amigos. Era noite de farra!

Encontraram-se num bar, perto do centro, muito bem frequentado. Mulheres lindas. Mas naquela noite tinha uma especial, que roubara o brilho de todas as outras do recinto. Como nunca tinha a visto por lá antes? Desinibido como era, avançou em passos largos e logo pôs-se a tagarelar com a jovem, cabelos negros, pele branca, olhos azuis, e uma tatoagem quase imperceptível na parte da frente do ombro. Nada lhe escapara daquela mulher naquela noite. Descobriu que a afinidade entre os dois era maior que apenas apreço físico - sim, ela também estava atraída por ele - eles gostavam de jazz, ambos já tinham lido todos os livros de Paulo Coelho e odiavam sorvete de kiwi.

Chegou em casa ainda atordoado pela incrível mulher que conhecera, e já ia dormir quando se lembrou do seu computador ligado, e resolveu dar uma olhada no que se passava naquele pequeno mundo que criara. Ficou surpreso ao perceber que já existiam cidades imensas, e que a organização cultural dos Prometheus tinha chegado num nível esplendido, eram todos seres interessantíssimos. Um deles porém lhe chamara a atenção. Um jovem estudante de computação, lhe lembrava os tempos que ainda estava na faculdade, viu que o pequeno se chamava Ulisses. Decidiu acompanhar aquela pequena odisséia.

Logo de cara percebeu o quando Ulisses era introvertido. Incomodado com isso, Alex logo colocou no caminho do pequeno uma fêmea. Queria ver sua mini-novela pegar fogo. Quão cruel fora Alex ao fazer isso. Mas ele não percebeu seu erro, tampouco o reparou, já passava das 6 da manha, e ele estava com sono.

Acordou no sabado bem disposto, logo ligou para a mulher que conhecera no dia anterior, Sara.
Convidou-a para sair. Dificilmente ficava tão afoito, mas dessa vez, ele estava realmente apaixonado. Sara aceitou o convite. Alex não cabia em si de contente. Saiu e deixou novamente o computador ligado, sem sequer se interessar pelo que se passava no seu micro-cosmo.

Foi feliz ao encontro daquela musa. Por que estava acontecendo assim? Ele nunca se interessava por mulher nenhuma daquela forma, por que ficara tão apaixonado de uma hora pra outra? Vai saber os motivos do destino...
Quando a viu, seu coração palpitou mais forte, ele proprio não sabia o que estava acontecendo, como uma mulher daquela tinha lhe feito tanto a cabeça. Cumprimentou-a com um abraço. Logo estavam num papo interessantíssimo que perdurou por pelo menos umas duas horas. O encontro tinha sido num mirante, e à tarde. Enquanto o sol se punha, conversavam sobre coisas mais banais, conversavam sobre a vida. Ele beijou-a.
Foi do céu ao inferno no momento que ela fugiu do seu beijo. Ele nao entendeu.
Ela apenas disse que não rolava, e que tinha achado aquele cara um cara muito interessante, por isso foi deixando rolar... mas que tinha acabado um relacionamento muito dificil, e todas aquelas conversas que nós já conhecemos.

O resultado caro leitor, foi um homem que voltava pra casa abatido. Encostou na cama e deixou sua roupa no chão como sempre fazia. O banho frio serviu para lhe acalmar. Fez um pouco de chá e sentou-se na frente do computador com a caneca fumegante. Esperava ver o que acontecia com Ulisses e sua bela Penélope. Ficou consternado ao perceber que o seu pequeno Prometheu se matara. Se matara por causa daquela mulher. Não se sentiu nem um pouco culpado de ter causado a morte de um ser imaginario, um dado de um programa. Deu um descanso para seu computador e desligou-o, antes de sentar na cama e ficar longas horas pensando naquela mulher que conhecera.

Sara tirara seu chão. Dera-lhe o céu e o inferno em uma só dose. Alex apenas fitava as estrelas a noite esperando que algum dia pudesse entender o que tinha se passado em seu coração.

Do outro lado da tela, um jovem soprava sua caneca de leite quente enquanto observava aquele pequeno ser a contemplar as estrelas. Quão tolo era ele. Quão inocente fora. Tinha sido divertido criar Sara. Tudo aquilo tinha sido bem divertido. Pegou o casaco, as chaves do carro e saiu para a farra. A noite estava apenas começando...

O mochileiro

A estrada me fascina. Aquela longa trilha de asfalto, sem fim, ou mesmo aquele caminho estreito, de madeira e ferro, por onde passam locomotivas: Todas as estradas para mim são impressionantes. Elas são a fuga, elas são o destino, elas me levarão para qualquer lugar.

Faço planos de mochilar. Dá um frio no estomago só de me imaginar saindo de casa com destino a lugar nenhum. Lá é muito bonito. Já está tudo definido e organizado: O dinheiro pra despesa... bem... Não tem dinheiro pra despesa - talvez eu leve o suficiente pra uma volta pra casa emergencial - Os lugares onde ficarei, praças, albergues, e talvez eu consiga dormir em algum lugar melhor de acordo com as circunstancias; a comida? Nem sei o que levar... Talvez leve uns cinco ou seis pacotes de miojo e uns dois reais pra comprar uma coxinha gordurosa em algum posto de gasolina... Pra falar a verdade eu não estou importando com esses supérfluos.

Caminhar é só um dos meios de se chegar ao destino, talvez eu pegue carona. Talvez eu leve o violão, ou uma gaita pra evitar o peso. Talvez eu tenha que trabalhar um pouco, pra conseguir o que comer, ou talvez haja um prato de lasanha em cima de um banco, na sombra, na beira da estrada.

A vida deve ser como o caminho do mochileiro, ela não tem um objetivo, um caminho final, ela tem um meio, uma forma de se chagar a sabe-se lá onde, uma evolução constante dos músculos e da mente. Ela tem buracos, principalmente no Brasil, é sinuosa, e, digo mais uma vez, é fascinante.

Eu quero aprender e crescer nesse caminho, eu quero ter um pouco mais de historias pra contar, eu quero aprender algum sotaque, ensinar alguma coisa...
Eu quero pisar na linha do horizonte.

Diário de um suicida

Quando acordou naquele dia sabia que seria seu ultimo dia.
Vagueou seu olhar pelo teto algum tempo antes de se levantar. Via no teto o mofo e a tinta descascando, apartamento tão diferente do que vivera antes com sua esposa e filha. Ah, o passado! Doces e pesadas lembranças daquele tempo remoto, quando ainda tinha algum resquício de esperança, algum resquício de vida.
Desceu as escadas e atravessou a rua para poder tomar seu café da manha. Decidiu que pagaria. Talvez queria morrer pensando que não tinha dívidas, ou pelo menos não pensando nelas naquele dia. Aquele café amargo e sem doce foi o mais gostoso de sua vida, assim como aquelas rosquinhas secas de farinha.
Saiu do bar e caminhou como mais um indigente daquela grande cidade. Para os outros pouco importava como se sentia e se sua dor realmente era tanta a ponto de se matar. Naquela grande cidade não se tinha amigos, principalmente se você era apenas alguém falido e sem familia, olhando uma vitrine cheia de vestidos, com os olhos mareados de lagrimas, desejando imensamente que sua filha estivesse viva para usar um daqueles. A dor maior vinha do fato de ele ser o principal incriminado da morte de sua doce criança. Morte que levou sua esposa a se matar. Henrique ficou detido por algum tempo até que fosse liberado por falta de provas do assassinato. Para ele, pouco importava a liberdade física. Sua prisão era muito mais terrivel que qualquer cadeia. Estava preso à angustia e ao sofrimento.
Sentado no banco da praça sentia náuseas, talvez porque estivesse a um passo da morte e sabia disso. Decidiu nao almoçar e ficar apenas ali contemplando a beleza do parque, do verde e das crianças correndo atrás de um cachorro que se parecia muito com o dálmata que tivera "naqueles tempos", quando desperdiçava seus dias num escritório de engenharia, e só via sua familia num pequeno intervalo no jantar, pois logo após o jantar tinha o noticiario que nao podia perder...
Quando deu por si já era por volta de quatro da tarde. Decidiu que estava na hora de terminar com aquilo de uma vez por todas. Se esperasse um pouco mais, talvez nao tivesse coragem.
Pensou um pouco em como se mataria. Já tinha simulado a situação uma centena de vezes, entretanto o frio na barriga era cada vez mais forte conforme aproximava a hora. Não iria fazer escândalo, não queria ser salvo por nenhum metido a herói e queria fazer tudo o mais rápido possível.
Caminhou rumo à rua do seu apartamento, de cinco andares. Pularia lá de cima. Ia vagarosamente pela rua, quando um carro cinza, velho, passou muito rápido por ele e bateu duas esquinas à frente. Dele desceram dois homens com meias-calças nas cabeças e com armas apontadas para onde Henrique estava. Atrás dele uma viatura da policia parou e começou o tiroteio com os bandidos. Por instinto humano, Henrique começou a correr das balas. Uma delas, vinda de um policial, perfurou sua traquéia e fez esguichar sangue arterial de seu pescoço. Tombou já sem vida, deixando apenas mais uma reportagem na página policial do jornal local.
Para os curiosos, uma morte trágica de um inocente. Para henrique apenas a realização de seus planos. Foi enterrado como indigente. O policial, pai de duas filhas e recém formado em direito, ficou preso por mais de 10 anos. Preso por mirar em um bandido e acertar um suicida.

Infinita Highway

Você me faz correr demais
Os riscos desta highway
Você me faz correr atrás
Do horizonte desta highway
Ninguém por perto, silêncio no deserto
Deserta highway
Estamos sós e nenhum de nós
Sabe exatamente onde vai parar

Mas não precisamos saber pra onde vamos
Nós só precisamos ir
Não queremos ter o que não temos
Nós só queremos viver
Sem motivos, nem objetivos
Estamos vivos e isto é tudo

É sobretudo a lei
Da infinita highway

Quando eu vivia e morria na cidade
Eu não tinha nada, nada a temer
Mas eu tinha medo, medo dessa estrada
Olhe só, veja você
Quando eu vivia e morria na cidade
Eu tinha de tudo, tudo ao meu redor
Mas tudo que eu sentia era que algo me faltava
E à noite eu acordava banhado em suor


Não queremos lembrar o que esquecemos
Nós só queremos viver
Não queremos aprender o que sabemos
Não queremos nem saber
Sem motivos, nem objetivos
Estamos vivos e é só
Só obedecemos a lei
Da infinita highway

Escute, garota, o vento canta uma canção
Dessas que uma banda nunca canta sem razão
Me diga, garota: será a estrada uma prisão?
Eu acho que sim, você finge que não
Mas nem por isso ficaremos parados
Com a cabeça nas nuvens e os pés no chão
"Tudo bem, garota, não adianta mesmo ser livre"
Se tanta gente vive sem ter como viver

Estamos sós e nenhum de nós
Sabe onde quer chegar
Estamos vivos, sem motivos
Que motivos temos pra estar?
Atrás de palavras escondidas
Nas entrelinhas do horizonte dessa highway
Silenciosa highway

Eu vejo um horizonte trêmulo
Eu tenho os olhos úmidos
Eu posso estar completamente enganado
Eu posso estar correndo pro lado errado
Mas "a dúvida é o preço da pureza"
É inútil ter certeza
Eu vejo as placas dizendo
"não corra, não morra, não fume"
Eu vejo as placas cortando o horizonte
Elas parecem facas de dois gumes

Minha vida é tão confusa quanto a América Central
Por isso não me acuse de ser irracional
Escute, garota, façamos um trato:
Você desliga o telefone se eu ficar muito abstrato
Eu posso ser um Beatle, um beatnik
Ou um bitolado
Mas eu não sou ator
Eu não tô à toa do teu lado
Por isso, garota, façamos um pacto
De não usar a highway pra causar impacto

Cento e dez, cento e vinte
Cento e sessenta
Só prá ver até quando o motor agüenta
Na boca, em vez de um beijo,
Um chiclet de menta
E a sombra do sorriso que eu deixei
Numa das curvas da highway